
Rede de incentivo ao empreendedorismo já contribuiu para a criação de uma centena de empresas com impacto regional, nacional e até internacional
As inscrições para a 21.ª edição do Poliempreende, a maior rede de incentivo ao empreendedorismo no Ensino Superior Politécnico em Portugal, já estão em curso. Realizado desde 2003, o concurso contribuiu para a apresentação de 1.700 projetos e para a criação de cerca de 100 empresas e igual número de registos de propriedade industrial, envolvendo mais de 12.000 alunos.
Ao longo de mais de duas décadas, entre as ideias de negócio desenvolvidas no âmbito desta iniciativa, que abrange 23 instituições filiadas no Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), distinguem-se casos de sucessos ao nível regional, nacional e internacional.
O projeto da Old Care, por exemplo, foi desenvolvido no Politécnico de Bragança, concorrendo à 5.ª edição do Poliempreende, em 2008. Atualmente, a empresa fundada por Márcio Vara – cuja missão passa por proporcionar a máxima autonomia e conforto à pessoa idosa – apresenta cobertura de serviços nos distritos de Bragança, Vila Real, Porto, Braga, Viana do Castelo, Aveiro, Viseu, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal.
“O Poliempreende foi o alicerce do que viria a ser a OldCare. A formação, preparação do plano de negócios inicial, a apresentação a concurso, o aprender a defender e apresentar o nosso projeto a investidores e convencê-los a apostar em nós foram marcos decisivos”, recorda Márcio Vara.
A Sensing Future Technologies, outro caso de sucesso, nasceu na sequência do concurso de 2011, no Politécnico de Coimbra, dedicando-se ao desenvolvimento de dispositivos médicos. Desde a fundação, a empresa tecnológica de Carlos Alcobia, Luís Ferreira, Pedro Mendes e do grupo Controlar já exportou dispositivos para mais de 30 países.
“No momento da participação no Poliempreende, não tínhamos como objetivo criar um negócio, mas o concurso acabou por ser a semente que deu início a este percurso e ajudou a moldar o futuro desta equipa”, enaltece Pedro Mendes.
O Politécnico de Leiria, por seu turno, assistiu ao crescimento do plano de negócios da Sound Particles, que concorreu ao Poliempreende em 2016. O plano teve a assinatura de Nuno Fonseca e Gustavo Reis, visando a comercialização do software de áudio 3D Sound Particles.
O programa, inovador, por aplicar computação gráfica ao som, tem vindo a ser utilizado nos grandes estúdios de Hollywood e em produções bem conhecidas como Game of Thrones, Star Wars, Frozen 2 ou Dune. “O prémio monetário recebido permitiu dar os primeiros passos da empresa: a primeira contratação e os primeiros equipamentos. E o vale incubação deu-nos uma ‘casa’ durante os primeiros meses”, recorda Nuno Fonseca.
Outros casos de sucesso na história do Poliempreende são Ahua Surf, Zoowish, IHCare, meia-dúzia, Sioslife, Untile ou Vargem.pt.
Na última edição, em 2024, o projeto MusclePen, uma caneta inovadora para autoadministração intramuscular de vitamina B12, desenvolvida por uma equipa da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (José Hermínio Gomes, Inga Donici e Ana Gil), foi o grande vencedor.
Uma rampa de lançamento para projetos inovadores
“O Poliempreende é um projeto sem paralelo ao nível nacional e visa, essencialmente, a promoção do empreendedorismo, capacitando estudantes e outros agentes no desenvolvimento de ideias e planos de negócio de cariz inovador. Cada edição é uma página em branco e uma rampa de lançamento para projetos inovadores, com potencial de impacto nacional e internacional, como temos visto ao longo destas mais de duas décadas”, salienta Maria José Fernandes, presidente do CCISP.
A 21.ª edição é coordenada pela Universidade de Aveiro, sendo a rede constituída pelos 15 Institutos Politécnicos do País, as escolas superiores não integradas e as escolas politécnicas integradas nas Universidades de Aveiro, Algarve e Madeira. Destina-se a alunos, diplomados ou docentes das instituições referidas, ou pessoas externas à comunidade académica, desde que integrem equipas constituídas por estudantes e/ou diplomados.
A inscrição das ideias de negócio na plataforma e.poliempreende.pt é a primeira etapa do processo, seguindo-se uma fase de capacitação com as oficinas de empreendedorismo. A submissão dos planos de negócio antecede os diversos Concursos Regionais e a definição dos vencedores, que representarão a sua instituição no Concurso Nacional, de 1 a 5 de setembro, na Universidade de Aveiro.
Os três projetos vencedores em cada um dos concursos regionais recebem prémios de 2.000€, 1.500€ e 1.000€, enquanto que os vencedores do concurso nacional irão receber prémios no montante de 10.000€, 5.000€ e 3.000€.
O 1.º lugar do Concurso Nacional passou a denominar-se, em 2023, Prémio Comendador Rui Nabeiro, em homenagem a um dos grandes impulsionadores do empreendedorismo e em particular desta iniciativa, distinguida em 2013 com o Prémio Europeu de Promoção Empresarial, na categoria de Investimento nas Competências Empreendedoras.
TESTEMUNHOS SOBRE CASOS DE SUCESSO DO POLIEMPREENDE
- O que recorda do concurso Poliempreende em que participou?
Márcio Vara (Old Care): “O concurso Poliempreende 2008 foi sem dúvida um marco na minha vida! Lembro-me perfeitamente de estar a trabalhar num domingo, porque eu era trabalhador-estudante, e ver um cartaz do Poliempreende, e pensei, porque não?! Sou formado em Gerontologia, na vertente da Saúde, estava nessa altura no último ano do curso e desde o primeiro ano, principalmente nos campos de estágio curriculares, pensava: ‘há tantas coisas que aprendemos no curso e que no terreno ninguém faz ou sabe fazer!’ E essa ideia de criar algo já vinha no pensamento há algum tempo, inclusive, numa cadeira do curso, tivemos de criar uma resposta para a população sénior, e a minha proposta tinha sido criar uma empresa de prestação de cuidados e serviços. Quando vi o cartaz pensei, é mesmo isto! Inscrevi-me, e havia todas as quartas-feiras de tarde as sessões de formação. De notar que nessa altura não se davam créditos ou se justificavam faltas, eu tinha mesmo de faltar a aulas para estar nas sessões de formação do Poliempreende. Mas a partir da primeira sessão, tive a certeza que poderia ser por ali o caminho! Efetivamente uma das coisas mais importantes foram todas aquelas sessões de esclarecimento, formação, e ouvir a experiência de outros empreendedores e investidores, foi o início do contacto com o mundo das empresas e do empreendedorismo.”
Pedro Mendes (SensingFuture): “A nossa principal motivação para participar no concurso foi o desejo de aprofundar conhecimentos sobre o mundo empresarial, uma área pouco explorada ao longo dos nossos cursos de engenharia. A decisão de concorrer, tanto a nível regional como nacional, foi tomada perto da data-limite, o que nos levou a um ritmo intenso de preparação. O desenvolvimento do plano de negócios foi um grande desafio, pois era algo totalmente novo para nós. Vivemos as diferentes fases do concurso com grande entusiasmo, mas também com incerteza quanto aos resultados, já que estávamos a explorar conceitos desconhecidos para nós.”
Nuno Fonseca (Sound Particles): “Tenho boas recordações, quer da eliminatória regional, quer da final nacional. É sempre interessante ver boas ideias e pessoas disponíveis para as colocar em prática.”
- Qual a importância do Poliempreende para o que era e o que viria a ser a v/empresa?
Márcio Vara (Old Care): “O Poliempreende foi o alicerce do que viria a ser a OldCare. Eu achava que entendia bastante da minha área de formação, mas efetivamente não sabia nada de negócios. A formação, preparação do plano de negócios inicial, a apresentação a concurso, o aprender a defender e apresentar o nosso projeto, a nossa ideia, a nossa visão a investidores, que não sabem nada da nossa área, e convencê-los a apostar em nós, foram marcos decisivos e fundamentais, que me fizeram acreditar que é mesmo possível, é possível sonhar, é possível criar! Aprendi desde cedo que o empreendedor é o “Sonhador que Faz”! E isso ficou para sempre gravado na minha forma de ser e pensar. Nesta fase de passagem de Ideia a Negócio e a Empresa, foi ainda mais fundamental o suporte, e o apoio constante, e até hoje, do Gabinete de Empreendedorismo do IPB, e sem dúvida que foi em conjunto que lançámos a OldCare no mercado.”
Pedro Mendes (SensingFuture): “O Poliempreende foi um marco fundamental, pois foi neste concurso que se juntaram três dos quatro elementos que mais tarde fundariam a Sensing Future. No momento da participação, não tínhamos como objetivo criar um negócio, mas o concurso acabou por ser a semente que deu início a este percurso e ajudou a moldar o futuro desta equipa.”
Nuno Fonseca (Sound Particles): “Foi importante, porque o prémio monetário recebido (5.000€) permitiu dar os primeiros passos da empresa: a primeira contratação e os primeiros equipamentos. E o vale incubação (3 meses de incubação gratuita) deu-nos uma ‘casa’ durante os primeiros meses.”
- Que conselho daria aos concorrentes desta edição de 2025 do Poliempreende?
Márcio Vara (Old Care): “Aos concorrentes de Edição de 2025 do Poliempreende diria que não tenham medo de sonhar, que saiam da sua zona de conforto, que testem os seus limites, que se esforcem para fazer algo mais do que apenas o suposto “normal”. Que têm à sua disposição uma ferramenta gratuita, que é o Poliempreende, toda a sua estrutura, todo o seu conhecimento, e todas as portas que ele pode abrir. Para isso basta Conhecimento, uma Ideia, um Sonho, e para além de poder fazer a diferença nas vossas vidas, pode fazer a diferença na vida de tantos mais! Então porque não fazerem algo que até agora nunca pensaram que poderia ser possível?”
Pedro Mendes (SensingFuture): “Participem, sem hesitação! O Poliempreende é uma excelente oportunidade para adquirir conhecimento e ganhar experiência valiosa para o futuro. Para quem já tem uma ideia de negócio, é o ambiente ideal para testá-la e validá-la. Para quem ainda não tem um conceito definido, o processo será igualmente enriquecedor e pode até inspirar novas ideias ao longo do percurso.”
Nuno Fonseca (Sound Particles): “Os concorrentes têm de decidir, se neste mundo da tecnologia, querem ser espectadores ou personagens principais. Desistir é o caminho mais fácil, lutar é o caminho mais gratificante.”